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A PORTA DO LADO

Drauzio Varella

Em entrevista dada pelo médico Drauzio Varella, disse ele que a gente tem um nível de exigência absurdo em relação à vida, que queremos que absolutamente tudo dê certo, e que, às vezes, por aborrecimentos mínimos, somos capazes de passar um dia inteiro de cara amarrada.

E aí, ele deu um exemplo trivial, que acontece todo dia na vida da gente. É quando um vizinho estaciona o carro muito encostado ao seu na garagem (ou pode ser na vaga do estacionamento do shopping). Em vez de simplesmente entrar pela outra porta, sair com o carro e tratar da sua vida, você bufa, esbraveja, esperneia e estraga o que resta do seu dia.

Eu acho que esta história de dois carros alinhados, impedindo a abertura da porta do motorista, é um bom exemplo do que torna a vida de algumas pessoas melhor, e de outras, pior. Tem gente que tem a vida muito parecida com a de seus amigos, mas não entende por que eles parecem ser tão mais felizes. Será que nada dá errado para eles? Claro que dá! Dá aos montes!

Só que, para eles, entrar pela porta do lado, uma vez ou outra, não faz a menor diferença. O que não falta neste mundo é gente que se acha o último biscoito do pacote. Que “audácia” contrariá-los! São aqueles que nunca ouviram falar em saídas de emergência: fincam o pé, compram briga e não deixam barato. Alguém aí falou em complexo de perseguição? Justamente. O mundo versus eles.

Eu entro muito pela outra porta, e às vezes saio por ela também. É incômodo, tem um freio de mão no meio do caminho, mas é um problema solúvel. E como esse, a maioria dos nossos problemões podem ser resolvidos assim, rapidinho. Basta um telefonema, um e-mail, um pedido de desculpas, um deixar barato. Eu ando deixando de graça, pra ser sincero. Vinte e quatro horas têm sido pouco para tudo o que eu tenho que fazer, então não vou perder ainda mais tempo ficando mal-humorado.

Se eu procurar, vou encontrar dezenas de situações irritantes e gente idem, pilhas de pessoas que vão atrasar meu dia. Então eu uso a “porta do lado” e vou tratar do que é importante de fato. Eis a chave do mistério, a fórmula da felicidade, o elixir do bom-humor, a razão porque parece que tão pouca coisa na vida dos outros dá errado.

Pense nisso... E prepare-se para uma nova vida!

(Disponível em http://pensador.uol.com.br/frase/MzQ0Nzk4/)

COLABORAÇÃO: O PRÓXIMO ESTÁGIO DA ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO

Cada vez mais estamos vivendo em uma sociedade colaborativa, onde dependemos de terceiros para executarmos tarefas, concluirmos projetos, tomarmos decisões. A tecnologia através da internet e de redes colaborativas nos conectou, mas infelizmente não estamos sabendo utilizar bem seus recursos e acabamos perdendo tempo, com algo que deveria nos ajudar.
O e-mail, por exemplo, que de todas é a revolução mais presente em nossas vidas, é quase impossível imaginar o trabalho hoje sem ele. Mas, apesar de essencial, tem sido muito mal utilizado. Estima-se que hoje apenas 10% dos e-mails enviados no mundo sejam úteis, o restante são classificados como SPAM’s. Nas empresas, o que costumo a observar são péssimas práticas de e-mail que acabam consumindo o tempo de todos como: correntes, cópia para todos, conteúdos incompletos ou de difícil compreensão, excesso de mensagens etc.
As ferramentas de “Messenger” (como MSN, Skype etc.) são extremamente úteis para fazer reuniões rápidas e auxiliar na tomada de decisões, mas as empresas que adotaram a solução corporativa estão revendo sua adoção, pois, na prática, os resultados esperados não apareceram.
As próprias reuniões que independem de tecnologia se transformaram no pior ladrão de tempo corporativo. Atualmente, uma pesquisa realizada pela Triad comprovou que apenas 1/3 das reuniões são realmente necessárias e eficazes.
Esses problemas são constantes no cenário da administração de tempo em pleno século XXI. Há solução para isso? Sim: Colaboração Produtiva e não simplesmente gestão de tempo por si só! Não adianta ter um planner, usar um smartphone, ser organizadíssimo, se o ambiente e se as pessoas que trabalham juntas não decidirem colaborar para gerar resultados.
A colaboração já provou que dá resultados, um exemplo é a própria Wikipedia, uma das maiores enciclopédias mundiais na internet, que foi criada pela colaboração de milhares de pessoas. Os maiores sistemas operacionais mundiais como o Windows e o Linux são fruto de pessoas colaborando. Se estamos vivendo a Era do Conhecimento, a próxima evolução será na direção da Era da Colaboração.
E como colaborar para ganhar mais tempo e foco? Primeiro, é preciso criar essa cultura na equipe e um bom início é convidar o time para pensar em soluções para melhoria do trabalho no ambiente: como por exemplo, utilizar o e-mail de forma mais eficaz, estipular regras de conduta nesse tipo de comunicação e também para reuniões.
Oriente a equipe a planejar em conjunto seus projetos, metas e ações. Não importa o tamanho do departamento, é sempre produtivo, uma vez por semana discutir as agendas que dependem de terceiros e criar estratégias para prevenção de urgências. É uma reunião simples, mas quando se transforma em uma rotina na empresa gera resultados muito positivos e cria a cultura da colaboração.
Administração de tempo no século XXI é um ingrediente chave para executar a estratégia pessoal ou corporativa, mas sem colaboração fica tudo mais complicado. Pense nisso e veja como pode melhorar a colaboração do seu time.

VOCÊ S/A (janeiro/2009)

CONHECER E TRATAR PESSOAS REQUER HABILIDADE E ISSO NÃO É PARA QUALQUER UM

Max Gehringer

Durante minha vida profissional, eu topei com algumas figuras cujo sucesso surpreende muita gente. Figuras sem um vistoso currículo acadêmico, sem um grande diferencial técnico, sem muito networking ou marketing pessoal. Figuras como o Raul.
Eu conheço o Raul desde os tempos da faculdade. Na época, nós tínhamos um colega de classe, o Pena, que era um gênio. Na hora de fazer um trabalho em grupo, todos nós queríamos cair no grupo do Pena, porque o Pena fazia tudo sozinho. Ele escolhia o tema, pesquisava os livros, redigia muito bem e ainda desenhava a capa do trabalho - com tinta nanquim. Já o Raul, nem dava palpite. Ficava ali num canto, dizendo que seu papel no grupo era um só, apoiar o Pena. Qualquer coisa que o Pena precisasse, o Raul já estava providenciando, antes que o Pena concluísse a frase.
Deu no que deu. O Pena se formou em primeiro lugar na nossa turma. E o resto de nós passou meio na carona do Pena - que, além de nos dar uma colher de chá nos trabalhos, ainda permitia que a gente colasse dele nas provas. No dia da formatura, o diretor da escola chamou o Pena de “paradigma do estudante que enobrece esta instituição de ensino”. E o Raul ali, na terceira fila, só aplaudindo.
Dez anos depois, o Pena era a estrela da área de planejamento de uma multinacional. Brilhante como sempre, ele fazia admiráveis projeções estratégicas de cinco e dez anos.
E quem era o chefe do Pena? O Raul.
E como é que o Raul tinha conseguido chegar àquela posição? Ninguém na empresa sabia explicar direito. O Raul vivia repetindo que tinha subordinados melhores do que ele e ninguém ali parecia discordar de tal afirmação. Além disso, o Raul continuava a fazer o que fazia na escola, ele apoiava. Alguém tinha um problema? Era só falar com o Raul que o Raul dava um jeito.
Meu último contato com o Raul foi há um ano. Ele havia sido transferido para Miami, onde fica a sede da empresa. Quando conversou comigo, o Raul disse que havia ficado surpreso com o convite, porque, ali na matriz, o mais burrinho já tinha sido astronauta. E eu perguntei ao Raul qual era a função dele. Pergunta sem sentido, porque eu já sabia a resposta.
O Raul apoiava. Direcionava daqui, facilitava dali, essas coisas que, na teoria, ninguém precisaria mandar um brasileiro até Miami para fazer. Foi quando, num evento em São Paulo, eu conheci o vice-presidente de Recursos Humanos da empresa do Raul.
            E ele me contou que o Raul tinha uma habilidade de valor inestimável... ele entendia de gente.
Entendia tanto que não se preocupava em ficar à sombra dos próprios subordinados para fazer com que eles se sentissem melhor e fossem mais produtivos. E, para me explicar o Raul, o vice-presidente citou Samuel Butler, que eu não sei ao certo quem foi, mas que tem uma frase ótima: “Qualquer tolo pode pintar um quadro, mas só um gênio consegue vendê-lo”.
Essa era a habilidade aparentemente simples que o Raul tinha: facilitar as relações entre as pessoas. Perto do Raul, todo comprador normal se sentia um expert e todo pintor comum, um gênio. Essa era a principal competência dele.

“Há grandes Homens que fazem com que todos se sintam pequenos.
Mas o verdadeiro Grande Homem é aquele que faz com que todos se sintam Grandes”.

NUM RESTAURANTE, TARDE DA NOITE...

Era tarde. Uma noite fria. Um viajante acabara de chegar numa cidade que não conhecia, depois de 11 longas horas de avião.
    Um aviso na entrada do restaurante dizia que o serviço se encerrava à meia-noite. Faltavam apenas 15 minutos. A fome fez nosso viajante entrar sem titubear, disposto a agüentar o mau humor dos funcionários.
    Só havia um garçom atendendo. O cliente, faminto e preocupado com o horário sentou-se logo e abriu o cardápio.
    O garçom passou por ele rapidamente e, sem demonstrar nenhum aborrecimento, foi dizendo com um sorriso: Boa noite, eu já vou lhe atender!
    Voltou rápido, trazendo uma cestinha de pães e manteiga. Cumprimentou o cliente novamente com um sorriso, disse seu nome e perguntou se poderia oferecer alguma sugestão de menu.
    Se o senhor estiver realmente com fome, temos uma excelente opção de entrada para uma noite como esta. Eu recomendo nossa sopa de cebola, que é famosa na cidade. Tenho certeza que o senhor vai gostar.
    O cliente aceitou a sugestão, mais porque deveria ser rápido. Enquanto o garçom se afastava apressado, sentiu-se aliviado por ter encontrado um lugar tão acolhedor. Poderia comer qualquer coisa sem maiores aborrecimentos.
    Depois de atender rapidamente uma mesa, o garçom voltou com a sopa. Enquanto ajeitava a mesa, continuava oferecendo ajuda ao cliente.
    Posso te chamar pelo nome? (o cliente consentiu e deu o nome). É a primeira vez que o senhor visita nosso restaurante? (a resposta foi sim) Então me permita oferecer nosso prato mais famoso. É um peixe macio, crocante e sem espinhos, que vem do mar dessa região. A porção é generosa e vem com dois molhos separados, feitos com frutos do mar. Um deles mais picante. Acho que o senhor vai gostar.
    A empolgação do garçom tratou de abrir mais ainda o apetite do viajante, que aceitou a sugestão.
    Ao tomar sua sopa, percebeu uma sensação diferente. Sentia prazer em estar ali e um grande desejo de comer o suculento peixe. Esqueceu até que sua motivação inicial era simplesmente matar a fome.
    Alguns minutos depois, o garçom perguntou se a sopa estava boa. O cliente respondeu que não, ESTAVA DIVINA.
    Assim que a sopa terminou, chegou o peixe. Ao arrumar a mesa, o garçom continuava a orientar o cliente.
    Estes são os dois molhos. Sugiro que comece experimentando o peixe sem molho, para sentir como é saboroso. Tenho muitos clientes que comem assim. Depois experimente com cada um deles. É uma boa experiência para o paladar.
    Enquanto o cliente saboreava um dos melhores peixes que havia comido, o garçom se aproximou perguntando novamente, com interesse: O senhor está gostando do peixe? E dos molhos?
    Tudo estava ótimo e o cliente agradeceu. Estava impressionado com atendimento que recebia.
    Você está de parabéns. Há muito tempo não encontrava um atendimento como o seu. Diga-me, isso é devido a algum programa de treinamento do restaurante?
    Respondeu o garçom: essa é minha maneira de ser. Eu gosto de fazer desse jeito. Eu faço com que os clientes fiquem mais felizes e eles se tornam meus amigos. Voltam sempre e em fazem sentir importante. Acredito que faço dessa maneira por eles e por mim.
    E continuou: Obrigada pelo elogio, é bom recebê-lo. Mas já que o senhor foi tão gentil, poderia repeti-lo diretamente ao meu gerente, que está ali na porta?
    O cliente concordou, com satisfação. O gerente se aproximou com ar de desconfiado. Para surpresa geral, quanto mais o garçom era elogiado, mais o gerente fechava a cara e balançava a cabeça negativamente.
    Não entendi, disse o cliente. Acabo de fazer grande elogio ao seu funcionário e essa é a sua reação?
    Ele, chocado, respondeu:
    Meu caro, eu sou na verdade o garçom. O gerente é ele. Me pediu que ficasse aqui,  no final do expediente, para que me mostrasse como devo agir.

Artigo de Eduardo Henrique de Macedo publicado em Mercado e Consumo:
O presente e o futuro do varejo.